07/09/2012 - 14h46

Comida vai ficar cara, e Brasil precisa produzir mais, diz Banco Mundial

Os choques nos preços dos alimentos devem permanecer até a próxima década, e o Brasil é um dos países que precisam aumentar a produtividade de lavouras e pastagens, disse nesta sexta-feira a vice-presidente de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial.

"O aumento da intensidade dos eventos climáticos e o fato de que estamos consumindo mais comida do que produzimos anualmente, pela primeira vez de que temos lembrança, significam que vamos ter mais choques de preços de alimentos", disse Rachel Kyte à agência de notícias Reuters, após um evento durante o Congresso Mundial da Natureza, na Coreia do Sul.

"Teremos que investir em um sistema agrícola a longo prazo que permita recuperações", declarou.

A declaração foi dada em um momento em que a soja e o milho são negociados em patamares históricos na Bolsa de Chicago, elevados pela redução de safra causada pela maior seca em mais de 50 anos nos Estados Unidos, com repercussão em todos os mercados agrícolas do mundo.

O trigo também acumula alta em 2012, na esteira do milho e da soja, mas também influenciado por reduções de produção no leste europeu devido ao clima.

Embora afirme que o Banco Mundial está "muito preocupado", a vice-presidente da instituição descartou a ideia de que possa ocorrer uma crise de alimentos como a de 2008/2009, quando a elevação de preços levou a protestos populares em alguns países.

"Sabemos melhor como nos coordenarmos como comunidade internacional. Anteriormente, os países foram muito rápidos em adotar políticas como bloqueio de exportações. Não estamos vendo isso neste momento. Há uma cooperação internacional que não havia antes".

Operadores de mercado temiam que a Rússia, por exemplo, bloqueasse vendas de grãos ao exterior, como chegou a fazer um uma safra recente, em meio a uma colheita abaixo do esperado neste ano, mas essa hipótese foi descartada pelo ministro da agricultura do país no fim de agosto.

"Alguns países no Oriente Médio que são fortemente dependentes das importações de trigo, por exemplo, nos preocupam", disse.

Bolsa-Família é um bom exemplo de programa social, diz Banco  Mundial

Rachel Kyte diz que, além de reduzir o desperdício de alimentos, nos próximos anos será preciso investir em programas sociais de rápida implementação.

"Há um número cada vez maior de países ao redor do mundo com 'redes de segurança sociais' que funcionam. O Bolsa-Família (no Brasil) é um bom exemplo, mas existem outros."

Ela declara que há espaço para aumentar a produtividade de pequenos produtores rurais, mas não descarta a contribuição da agricultura industrial.

"Precisamos da agricultura de grande escala, por causa de suas inovações e produtividade. Algumas pessoas acreditam que esse não é um caminho, mas nós acreditamos que, se feito de maneira transparente, com apoio de governos federais e de investidores de longo prazo e com transparência sobre quem é dono das terras, a agricultura industrial -assim como já foi feito no Brasil- pode transformar a produtividade de sistemas em outros países", disse.

A executiva apontou para a intensificação do uso das terras já ocupadas no Brasil.

Nem o mundo nem o Brasil podem permitir haver uma cabeça de gado por hectare. É preciso chegar a quatro, ou até mais. Não há razões para pensar que não poderemos aumentar a produção agrícola e fazermos isso com sustentabilidade ambiental e com produtividade social", disse.

Banco Mundial defende derrubada de subsídios

A vice-presidente do Banco Mundial defendeu a derrubada de subsídios em setores como o de combustíveis fósseis e o agrícola, que somam um US$ 1 trilhão e que, segundo ela, não estão ajudando nem os pobres nem a natureza.

"Subsídios permanentes não são subsídios. São distorções", afirmou. "Não temos nenhum país em mente, mas há bastante subsídio ao nosso redor. As pessoas sempre se perguntam onde iremos arranjar dinheiro para o desenvolvimento sustentável. O que dizemos é que, se readequarmos o destino desse US$ 1 trilhão que já estamos usando, mas que não funcionam, isso seria um grande começo."

(Gustavo Bonato, da Reuters)